Por Fernando dos Santos, Isabella Ribeiro, Júlia Harlley, Letícia Gonçalves, Madu Suhet, Pedro Maynardes e Victória de Souza
As áreas verdes nas regiões administrativas fora do Plano Piloto estão apresentando sinais claros de descaso, caracterizados pela falta de acessibilidade, deficiências na manutenção e a ausência de políticas públicas eficazes. Os parques Três Meninas (em Samambaia), Ezechias Heringer (Guará 2) e Ecológico do Riacho Fundo estão enfrentando problemas estruturais significativos, mesmo em meio a áreas verdes. O Instituto Brasília Ambiental reconheceu suas dificuldades em manter esses espaços, citando escassez de recursos humanos como uma das principais limitações.
A realidade é que a condição das infraestruturas dos parques ecológicos do Distrito Federal tem gerado preocupação entre moradores e visitantes, devido à falta de manutenção, equipamentos em estado precário, acessibilidade inadequada e calçadas irregulares.
Depoimentos de frequentadores desses três parques abordados na reportagem revelam opiniões diversas. Existe um consenso sobre a importância desses espaços, mas também críticas consideráveis em relação à conservação, segurança e iluminação.
Condições alarmantes
No Parque Ecológico Três Meninas, localizado em Samambaia, os visitantes expressam descontentamento em relação ao abandono do local. Este parque, que homenageia as três filhas do pioneiro Inezil Penna Marinho, conta com uma pista de skate em péssimas condições, um parquinho infantil que precisa urgentemente de reforma e uma iluminação insuficiente.
“Agora está tranquilo (por volta de 10h). Contudo, à noite, a iluminação deixa a desejar, e tudo fica muito escuro. Seria bom revitalizar o parquinho, consertar a quadra de areia e principalmente a pista de skate”, comenta o skatista Washington Santos, 29 anos, morador de Samambaia.
Ele observa que, antigamente, o parque era um ponto de consumo de drogas e assaltos, mas destaca que a polícia agora realiza rondas mais frequentes.
Uma frequentadora de 46 anos, que optou por não se identificar, sugere a criação de quiosques e áreas para piqueniques, semelhantes às que existem no Parque da Cidade, para tornar os fins de semana em família mais agradáveis.
Em relação à segurança, ela expressa preocupação: “Acho que é um lugar bom, mas não 100% seguro; não deixaria minha filha andar aqui sozinha”.
Um casal que reside em Samambaia há uma década relatou que era a primeira vez que visitavam o espaço e se sentiram seguros ao avistar um vigilante percorrendo o parque, mas sugeriram que mesas e bancos fossem instalados.
A administração do Parque Três Meninas informou que há um projeto de revitalização em curso, que inclui a substituição de estruturas por opções mais sustentáveis com painéis solares, cercamento do espaço, guaritas de segurança e novas vias de acesso.
O casarão histórico também será restaurado para se tornar um ponto focal do projeto Parque Educador, que promove atividades para alunos da rede pública. O parque oferece ainda suporte para escoteiros e programas de ginástica, com cerca de 160 alunos participando regularmente.
Conservação imperfeita
A infra estrutura do Parque Ecológico do Riacho Fundo se mostra em melhores condições em comparação ao Parque Três Meninas.
Uma educadora social, residente do Riacho Fundo, classifica o local como bem cuidado, embora identifique problemas isolados na iluminação.
Um agente de conservação voluntário do parque há 12 anos comenta que o local passa por manutenções regulares e conta com rotinas de limpeza e coleta de lixo em vários pontos. Ele observa que, no passado, problemas de segurança foram resolvidos, resultando em uma percepção positiva do parque por parte de novos visitantes.
“Estamos em manutenção”
No Parque Ezechias Heringer, no Guará, os usuários enfrentaram problemas de comunicação. Em uma primeira visita, no dia 29 de maio, o parque estava fechado para manutenção sem aviso prévio. Muitas famílias com crianças e carrinhos se viram obrigadas a voltar ao se depararem com o portão principal fechado, causando frustração.
Na segunda visita ao parque, em 3 de junho, os frequentadores relataram uma sensação geral de segurança.
O segurança Antônio Lima, 67 anos, afirma que há uma equipe constante de vigilantes no Parque Ezechias Heringer, com sete profissionais patrulhando a área, além da presença da Polícia Militar.
Os visitantes sugerem apenas melhorias específicas, como a instalação de chuveiros para os dias quentes.
Ibram promete melhorias
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram), que gerencia as unidades de conservação, explicou que a responsabilidade pelas manutenções recai sobre a Novacap, e que, em alguns casos, os avisos sobre fechamentos não são divulgados com a antecedência necessária.
Marcela Versiani, superintendente de atividades de conservação de biodiversidade e gestora da unidade de conservação, mencionou que em parques com alta circulação, como Olhos d’Água e Águas Claras, os fechamentos são normalmente avisados com mais frequência.
“As manutenções costumam ocorrer nas segundas-feiras, já que há um fluxo reduzido de visitantes, e fazemos isso por motivos de segurança”, explicou.
Para o Ibram, os parques ecológicos têm um papel essencial diante das mudanças climáticas.
“Os parques são um refúgio que as pessoas podem usufruir, um contato harmonioso com a natureza, um alívio em relação às altas temperaturas”, acrescenta Marcela Versiani.
Ela reconhece, no entanto, que muitos parques ainda não atendem às normas de acessibilidade e que há dificuldades em áreas com baixo impacto, mas enfatiza que um manual de acessibilidade já orienta melhorias sustentáveis, e ações judiciais têm acelerado o processo, como observado no Riacho Fundo.
O grande desafio, entretanto, continua sendo a falta de pessoal, conforme argumenta. “Existem impostos que geram receita, mas há uma grande deficiência em recursos humanos. Concursos estão sendo realizados para preencher as vagas, mas atualmente as equipes não são suficientes para abranger as 82 unidades de conservação que o DF possui”, conclui Marcela.
Supervisão de Isa Stacciarini e Luiz Claudio Ferreira