Recentemente, o governo de São Paulo anunciou uma nova estratégia para transformar o Rio Tietê em um ícone de recuperação ambiental.
Durante um evento realizado no Parque Ecológico do Tietê, as secretarias estaduais do Meio Ambiente e de Parcerias e Investimentos lançaram uma consulta pública visando uma Parceria Público-Privada (PPP), que destinará R$ 9,5 bilhões em investimentos nos próximos 15 anos. As ações contempladas incluem desassoreamento, remoção de resíduos, cuidados nas margens e projetos paisagísticos tanto para o Tietê quanto para o Pinheiros.
Este projeto foi descrito pela secretária Natália Resende como “um marco na revitalização do rio”.
A expectativa é que, até 2029, com a universalização do saneamento, a população possa se reconectar com o Tietê e “ter orgulho desse patrimônio”.
Contudo, essa promessa não é algo inédito. Desde a década de 1990, administrações sucessivas afirmam que a despoluição do Tietê seria alcançada em um curto período. O Projeto Tietê, iniciado em 1992, previa a revitalização do rio em dez anos. No entanto, três décadas depois, mesmo com bilhões investidos, a situação ainda é preocupante: em vários trechos, o Tietê apresenta forte odor, baixa oxigenação e a presença de esgoto não tratado.
Conforme dados oficiais, mais de R$ 22 bilhões foram direcionados ao programa IntegraTietê desde 2023, com foco principal em saneamento básico. A privatização da Sabesp acelerou a conexão de moradias à rede de esgoto, e 800 mil lares passaram a contar com atendimento adequado em menos de dois anos. Além disso, o desassoreamento avançou: já foram retirados mais de 4 milhões de metros cúbicos de sedimentos, equivalente a 328 mil caminhões basculantes.
Entretanto, a realidade do Tietê contradiz a narrativa otimista. Quem atravessa a Marginal em São Paulo depara-se com águas turvas, resíduos flutuantes e o odor característico da poluição. Apesar de o governo divulgar números de toneladas de lixo removidas e árvores plantadas nas margens, especialistas em gestão hídrica advertem que o problema estrutural reside no esgoto doméstico e industrial despejado durante décadas no leito do rio. Reverter essa situação exige tempo, monitoramento contínuo e uma fiscalização rigorosa.
Dentro do pacote apresentado pelo governo, está prevista também a criação do Parque Salesópolis, com um investimento de R$ 158 milhões, assim como um programa de paisagismo de R$ 44 milhões ao longo das margens do Tietê, desde a Barragem da Penha até a foz do Pinheiros.
A proposta visa tornar a área ao redor do rio mais atrativa e aumentar a interação da população com ele.
Na prática, contudo, a recuperação do Tietê representa um desafio de longo prazo. Prometido há mais de 30 anos como “despoluído”, o rio continua simbolizando as dificuldades de conciliar o crescimento urbano, a pressão populacional e a política ambiental em São Paulo.
